Abstract
Esse artigo procura enfocar a influência de Paulo Freire num jovem professor e militante ecologista em São Paulo nos últimos anos da ditadura no Brasil (1964-1984). Essa influência continua até os dias atuais e é afetada pelas relações de amizade com Nita Freire. São apresentados alguns apontamentos pessoais escritos durante o curso de Paulo freire na PUCSP em 1983. São destacados momentos nos quais Nita e Paulo Freire dialogaram com ecologistas, educadores/as ambientais e com as novas gerações de militantes, estudantes, professores/as e pesquisadores/as. O autor enfatiza a mútua admiração entre Paulo Freire e o pedagogo francês Georges Snyders, através de acontecimentos, livros e artigos no qual o autor foi mediador.
Em ensaio sobre os encontros e desencontros da vida cotidiana, Margaret Chillemi observa que os encontros afetuosos são como devires carregados de potências que nos tornam mais fortes e resistentes (CHILLEMI, 2012). Têm sido com essa intensidade e características meus encontros profissionais e pessoais com Nita e Paulo Freire.
Na tarde de 26 de setembro de 2011 Nita chegou sorridente e afetuosa à Universidade de Sorocaba, juntamente com meu orientando no doutorado Mauricio Massari, para inaugurar a Exposição Biobibliográfica 90 anos de Paulo Freire.
Se deixou fotografar com as bibliotecárias que organizaram a exposição, comentou alguns dos livros expostos e os recortes de jornais, nacionais e locais, que as bibliotecárias pacientemente organizam desde a chegada de Paulo Freire ao Brasil, depois de seu longo exílio.
Ela leu atentamente e comentou o texto que escrevi para a apresentação dessa exposição, no qual observo a influência de Paulo Freire na constituição da Universidade de Sorocaba. Foi na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba, que Paulo Freire ministrou um dos seus primeiros seminários, logo após o retorno do exílio, que originaram o livro Paulo Freire ao Vivo ( FREIRE; VANNUCCHI; SANTOS, 1983 ). A relação inicial de Paulo Freire com a Universidade de Sorocaba (Uniso) se deu através de um dos seus fundadores e ex- reitor Aldo Vannucchi que com ele trabalhou em Genebra (GERMANO;REIGOTA ,2007 a, SERBIN, 2000).
Após termos inaugurado a exposição fomos à Faculdade de Educação Física (onde Mauricio Massari é professor) para a conferência que Nita faria pelos 90 anos de Paulo Freire. Quando chegamos lá o clima era de festa entre os estudantes. Havia música e grande movimento no auditório. Antes do inicio da conferência de Nita, Marta Catunda, doutoranda em educação na Uniso, apresentou três de suas composições musicais denominadas “Freireanas”.
O movimento intenso dos jovens foi dando lugar à atenção ao que Nita falava, com humor e contundência. Aqueles jovens estudantes e futuros professores de educação física, estavam diante de um testemunho afetuoso e histórico sobre o Brasil de algumas décadas passadas e sobre o tempo presente marcado pela violência, pela falta de ética, pelos oportunismos e autoritarismos que ainda imperam e que Paulo Freire tanto combateu.
A conferência de Nita para os estudantes e professores de várias disciplinas, jornalistas, bibliotecárias, esportistas, pesquisadores, mestrandos e doutorandos se estendeu por mais de duas horas. Ela parecia incansável e nenhum ruído parecia lhe incomodar.
Uma jovem lhe perguntou em qual contexto Paulo Freire escreveu Pedagogia do oprimido e Nita não poupou detalhes, enfatizando o problema que Paulo Freire teve no Chile ao ser acusado de ter escrito um livro contra o governo democrata-cristão de Eduardo Frei.
Uma professora lhe perguntou sobre a relação de Paulo Freire com a Teologia da Libertação e Nita falou de sua intenção de publicar as cartas que Paulo Freire trocou com alguns dos principais expoentes desse movimento e as dificuldades que tem encontrado para isso. Mas deixou claro que Paulo Freire participou da dimensão pedagógica da Teologia da Libertação.
Outra professora lhe perguntou sobre o exílio de Paulo Freire, por onde ele esteve e como viveu nesses lugares. Nita novamente não poupou detalhes sobre a crueldade e violação dos direitos humanos que os militares foram capazes de fazer com ele, com a família dele e com muitos outros e outras que ousaram desafiá-los. Apesar do tom de conversa informal entre pessoas de diferentes gerações e formações acadêmicas, Nita não deixou de recorrer à historia, filosofia, arte e ciências políticas relacionando sempre esses conhecimentos específicos com a vida cotidiana.
Ela foi ali, na Faculdade de Educação Física de Sorocaba, como sempre tem sido: professora atenciosa e pesquisadora rigorosa que como interlocutora de Paulo Freire, teve marcante influência no pensamento político e pedagógico dele, principalmente na ultima década da vida dele quando estiveram casados. Nita também deixou claro o seu papel de mulher e cidadã militante e firme contra as injustiças e preconceitos, alertando principalmente aos jovens ali presentes que a cidadania é uma prática cotidiana.
Um mês depois Nita voltou a Sorocaba, para uma conferência na Universidade Paulista, para os estudantes do curso noturno de letras, pedagogia e psicologia, organizada pelos doutorandos em educação na Uniso, Maria Aparecida Crisostomo e Ricardo José Orsi de Sanctis, ambos professores na Universidade Paulista.
Nita retomou alguns temas abordados na conferência anterior, comentou vários dos livros de Paulo Freire, relatou passagens da infância, adolescência e juventude dele em Recife e Jaboatão, a relação de Paulo Freire com a família dela e a generosidade do pai dela ao disponibilizar uma bolsa de estudos para Paulo Freire estudar atendendo a solicitação da mãe dele.
Voltou a enfatizar o quanto Paulo Freire se dedicou a explicitar a dimensão política das práticas pedagógicas e sociais cotidianas e que a pedagogia freireana não se limita a um método. Trata-se, disse ela, de uma teoria filosófica e política da educação pautada na superação das injustiças sociais.
Enfatizou ainda que os oprimidos de outrora não desaparecerem e outros oprimidos vieram à cena e reivindicam cidadania, justiça e respeito, como as mulheres, os gays e lésbicas, os/as indígenas, os/as negros, os/as Sem Terra.
Quando ela terminou a conferência os e as estudantes a aplaudiram de pé manifestando que não queriam que terminasse. Nita ainda respondeu a mais uma pergunta relacionada com o exílio de Paulo Freire e foi novamente aplaudida de pé por todas as pessoas ali presentes. Os e as estudantes, queriam fotos com ela e dedicatórias nos exemplares do livro Pedagogia da autonomia (FREIRE, 1997).
A sua presença em Sorocaba, atendendo meus alunos e alunas do doutorado em educação e a atenção e o afeto dela com os alunos e alunas dos meus alunos e alunas foi um momento marcante do processo de ressignificação do livro Pedagogia do oprimido (FREIRE, 2009) que com eles e elas busco realizar nos nossos seminários na Universidade de Sorocaba.
As experiências recentes acima relatadas são também reflexos da pertinência e contemporaneidade da pedagogia freireana e de seu impacto em diferentes grupos sociais e com interesses diversos.
Refletem também a necessidade e o anseio de se repensar o Brasil e o mundo, com as gerações nascidas após o fim dos regimes totalitários e que com muita dificuldade chegam ao ensino superior privado e dele saem para, em grande parte, se tornarem professores nas escolas públicas onde se encontram as camadas mais pobres e marginalizadas da população.
É esse o desafio que enfrentamos e é com essas pessoas e nesses lugares que a pedagogia freireana tem mostrado o quanto é pertinente e pode ser recriada. Ela nos afetou em outros momentos históricos e nos afeta atualmente de outra maneira, em outros contextos culturais, ecológicos, sociais e políticos e em companhia de outras pessoas.
No final dos anos 1970 o Brasil estava ainda sob a ditadura militar iniciada em 1964 e antes de concluir a universidade, eu encontrei um trabalho eventual de professor substituto no curso noturno de um tradicional colégio público de São Paulo. Esse era mais um dos trabalhos eventuais que eu tinha. Não pretendia ser professor e pensava ingressar na pós-graduação em paleontologia para pesquisar os Trilobitoidea.
Alguns dos professores efetivos, nesse mesmo colégio, eram militantes contrários à ditadura militar e adeptos da pedagogia freireana. Minha atuação política se dava no movimento estudantil e no iniciante movimento ecologista. Eu também estava muito próximo do ativo movimento de contracultura.
As experiências de professor com alunos e alunas (que tinham mais ou menos a minha idade) e com os e as colegas contestadores do regime ditatorial e leitores de Paulo Freire me fizeram desistir dos Trilobitoidea e me levaram à educação ambiental.
Em 1983 eu estava inscrito no mestrado em Filosofia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e matriculado na disciplina Alternativas em Educação Popular ministrada por Paulo Freire.
A minha expectativa em estudar com ele era enorme. A sala de aula estava lotada. A possibilidade de estudar com Paulo Freire na universidade que se caracterizou por ser um espaço de resistência e por congregar os mais conhecidos professores perseguidos pela ditadura, entre eles, Mauricio Tragtenberg, Octávio Ianni e Florestan Fernandes, muito me estimulou.
A PUCSP era também lugar obrigatório na passagem de professores brasileiros de outras universidades e estrangeiros que combatiam a ditadura militar e pesquisavam sobre autores como Marx, Nietzsche, Trotsky, Foucault, Deleuze, Guattari, Gramsci, Benjamim, Arendt, Bourdieu, Basaglia, etc.
Entre os estrangeiros, a constante presença de Félix Guattari entre nós foi a que mais marcou a atuação de um grupo de estudantes do qual eu participava. Discutíamos intensamente as micropolíticas e as revoluções moleculares cotidianas (DOSE, 2007, p.574-576).
A ditadura agonizava, os movimentos sociais estavam no auge, a contracultura paulistana produzia música, poesia, literatura, teatro e artes plásticas que marcariam a época. As biólogas Nicea Wendel de Magalhães e Salete Abrahão aglutinavam jovens interessados em educação ambiental e ativistas como o anarquista Miguel Abellá , artista catalão residente em São Paulo, davam o tom contestatório. Os exilados e exiladas estavam voltando ao país e entre eles e elas estava Kazue Matsushima que havia feito o mestrado na Universidade Livre Bruxelas onde defendeu uma dissertação sobre educação ambiental e fazia conferências e seminários sobre o tema. O movimento ecologista ganhava expressão nacional com os textos e intervenções de Cacilda Lanuza, Augusto Ruschi, José Lutzenberger, Frans Krajceberg e Fernando Gabeira.
Ainda guardo o caderno com as anotações das aulas de Paulo Freire e alguns registros desse movimento todo que eu presenciava e participava. A primeira das aulas com ele na PUCSP ocorreu em 15 de março de 1983, na qual discorreu sobre as expectativas dos intelectuais e seus equívocos em relação às camadas populares. Falou do autoritarismo e das mentiras que rondam e se fazem presentes no cotidiano escolar.
Como trabalho final de sua disciplina Paulo Freire disse que deveríamos escrever um texto a partir da fala de um camponês maranhense quanto se encontrou com um grupo de intelectuais. O camponês lhes disse “ enquanto vocês aí, estão interessados no sal, nós aqui estamos interessados no tempero. E o sal é apenas um componente do tempero”. A expressão e encontro do camponês com os intelectuais parece ter marcado muito Paulo Freire, já que ele se refere a isso em diferentes momentos e textos, como por exemplo no livro Política e Educação (FREIRE, 1993, p.57).
Na segunda aula, em 22 de março ele disse e eu anotei “Para que haja igualdade é necessário que haja diferença”. Essa frase viria ser o mote central do meu trabalho desde então, a pedagogia das diferenças voltada para os grupos marginalizados.
Nas primeiras aulas com Paulo Freire eu estava empolgado e procurava ler os textos indicados, mas estava se iniciando um desconforto com as insistentes intervenções dos meus colegas, cujas expectativas foram se distanciando das minhas. Havia neles um tom messiânico, de intelectuais condutores das massas, que me incomodava e me parecia que eles buscavam o endosso de Paulo Freire . O assédio dos meus colegas a Paulo Freire era intenso e eu só pude falar diretamente com ele no primeiro dia de aula, quando todos nós nos apresentamos rapidamente.
O desconforto está registrado no meu caderno, ou melhor na ausência de registro da terceira aula. A página do caderno está praticamente em branco e se encontra apenas a frase, certamente de minha autoria, “ Já faz um tempo…oh baby, não!” ao lado da data 12 de abril.
Mas não desisti e entre as notas das aulas posteriores em que se encontram comentários de Paulo Freire sobre suas obras, como A importância do ato de ler e Cartas de Guiné Bissau encontram-se também registros e comentários, que não estavam relacionados com os temas da aula e sim sobre momentos experimentados da cultura alternativa em São Paulo naquele penúltimo ano da ditadura militar.
Entre esses comentários, um se refere ao primeiro show de Arnaldo Dias Baptista (ex- Os Mutantes) realizado no teatro da PUCSP, após o acidente que quase lhe tirou a vida.
A música era e é muito importante na minha práxis pedagógica e isso se manifesta no trabalho de conclusão da disciplina que apresentei ao professor Paulo Freire. Pensei e escrevi musicalmente sobre a frase dita pelo camponês maranhense ao grupo de intelectuais utilizando as letras das canções “A sede de peixe (para o que não tem solução)” de Milton Nascimento e Márcio Borges e “ O sal da terra’ de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, procurando, com as canções, refletir sobre o encontro e desencontro de pessoas com grandes diferenças e defasagens de expectativas um do outro. O professor Paulo Freire me deu nota 9 (REIGOTA, 1983).
A primeira vez que vi Nita foi na sala reservada aos participantes de uma mesa redonda da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992.
Organizada por Márcio D’Olne Campos, a mesa redonda reunia Paulo Freire, o poeta Patativa do Assaré, o histórico ecologista José Lutzenberger e eu como coordenador nacional do projeto internacional Voice of the Children.
Era motivo de grande orgulho, participar de uma mesa redonda com pessoas que eu tanto admirava e que tinham grande influência no meu trabalho e militância.
O público era bem pequeno no amplo teatro e em certo momento, pouco antes de minha fala, uma pessoa do público interveio, protestando sobre alguma coisa, iniciando pequena confusão. Não tive oportunidade de conversar com Nita, nem a ela ser apresentado .
A segunda vez que a vi foi no lançamento do livro Pedagogia da Autonomia em São Paulo. Eu acompanhava Vera Regina Rodrigues que organizava o livro Muda o Mundo Raimundo! A educação ambiental no ensino básico do Brasil (RODRIGUES, 1998) e esperávamos contar com o prefácio de Paulo Freire.
Ele foi muito gentil e atencioso e nos disse que estava de viagem marcada para os próximos dias para os EUA onde lecionaria na Harvard University, mas se não fosse muito urgente, ele poderia nos enviar o prefácio. Infelizmente Paulo Freire faleceu poucos dias depois e a ele o livro foi dedicado. Nessa ocasião também não conversei com Nita nem a ela fui apresentado.
Nosso primeiro encontro se deu em 1998 num dos seminários organizados por Vera Regina Rodrigues, no Rio de Janeiro, para a equipe que havia participado da elaboração do livro Muda o Mundo Raimundo! Comentei com Nita, que apesar de termos vários colegas e alguns amigos e amigas em comum, era a primeira vez que estava tendo a oportunidade de conversar com ela.
Disse que gostaria de ouvir dela os motivos pelos quais Paulo Freire havia deixado a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Ela respondeu que ele estava querendo muito ter mais tempo para escrever e o trabalho de secretário o estava dificultando. Ela citou os livros e textos que Paulo Freire havia escrito desde que havia deixado a Secretaria e entre eles o livro Pedagogia da autonomia.
Sempre enfatizo aos meus alunos e alunas a influência de Nita nesse livro. Enfatizo também a inestimável contribuição desse livro e os póstumos organizados por ela (FREIRE A.M.A, 1999, FREIRE, 2000,2001,2005) ao aprofundamento da pedagogia das diferenças e da educação ambiental definida como educação política.
Nossos encontros tiveram maior frequência. Um afeto mútuo nos une e em várias ocasiões ela me presenteou com um novo livro ou uma nova edição de um dos seus livros ou de Paulo Freire com dedicatórias em que nossa amizade é lembrada e enfatizada.
Meus alunos e alunas também são afetados por essa relação e como testemunho destaco a longa entrevista que Nita nos concedeu quando uma de minhas orientandas concluía sua dissertação de mestrado sobre o projeto de alfabetização de adultos “Sorocaba sem analfabetos” (GERMANO, 2006).
A entrevista foi traduzida para o inglês por Vera Regina Rodrigues e disponibilizada no site do The Paulo and Nita Freire International Project for Critical Pedagogy da Mcgill University. Foi traduzida em espanhol pelo educador ambiental Edgar González-Gaudiano e publicada no México. Em português foi publicada na Revista de Estudos Universitários da Universidade de Sorocaba. (GERMANO; REIGOTA, 2006, 2007b, 2009)).
Após sua saída da Secretaria de Educação de São Paulo, Paulo Freire publicou Educação na cidade. Quando esse livro foi publicado em francês, escrevi uma resenha que foi publicada na Revue Française de Pédagogie (REIGOTA, 1994). O famoso professor Georges Snyders a leu e me enviou pelo correio um pacote com seus livros mais recentes e um bilhete dizendo de sua admiração por Paulo Freire.
Fiquei muito surpreso e feliz em receber essa gentileza do professor Snyders e o registro aqui se faz necessário, pois quando eu estudava na PUCSP os professores marxistas ortodoxos, que se opunham à pedagogia freireana, nos obrigavam a ler e usavam os textos de Georges Snyders como argumentos para combatê-la.
Alguns anos depois os livros que recebi de Snyders foram publicados no Brasil com o respaldo de Paulo Freire. Sobre isso ele assim se refere:
Veja o Snyders, por exemplo, um pedagogo de formação marxista que se tem entregue a vida inteira a uma pedagogia critica geradora de riso! Não uma pedagogia irresponsável, mas uma pedagogia crítica, que propõe porém uma experiência de contentamento no processo de conhecer, de estudar e de ensinar. Agorinha, enquanto trabalhávamos, eu recebi um pacote da Paz e Terra, com o último texto de Snyders, traduzido para o português, para que eu escreva um prefácio. O Snyders me mandou esse texto dele em francês, e eu então o encaminhei à Paz e Terra, sugerindo que fosse publicado. O titulo do livro é Alunos felizes; reflexões sobre a alegria na escola, a partir de textos literários. O Snyders é um campeão da alegria, e nem por isso a sua proposta pedagógica é frouxa e espontaneísta. (FREIRE; GUIMARÃES, 2000, p.42).
Quando estive na Universidade de Huelva na Espanha tive a grata surpresa de ver que um dos seus modernos edifícios leva o nome de Paulo Freire. Quis ser fotografado diante dele. Enviei as fotos para Nita que publicou uma delas no livro Paulo Freire: Uma História de vida. Sou eu a pessoa sentada no banco diante do edifício Paulo Freire na Universidade de Huelva (FREIRE A. M. A., 2006, p.500). Logo depois, Nita esteve nessa universidade para a inauguração oficial do edifício e descerrou a placa com os seguintes dizeres: la educación necessita tanto de formación técnica, cientifica y profesional como de sueños y utopia. (Paulo Freire). Visita de Ana Maria (Nita) Araújo Freire (FREIRE A. M. A., 2006, p. 510)
Nos últimos anos tem me interessado pesquisar e discutir com meus alunos e alunas do mestrado e doutorado em educação da Universidade de Sorocaba os contextos em que Pedagogia do Oprimido foi escrito e o seu impacto e pertinência nos tempos atuais.
Assim, a abordagem histórica, cultural, ecológica, social e política da América Latina nas últimas décadas é incontornável. Nesse sentido estou interessado em pesquisar e trazer a público aspectos privados, pessoais e singulares, ou seja as “ambiências cotidianas” que produziram, possibilitaram e testemunharam acontecimentos de intensos impactos coletivos e planetários, como é o caso, por exemplo, do livro Pedagogia do oprimido.
A presença de Paulo Freire no Chile está bem documentada e estudada e pouco de original resta a acrescentar. No entanto em recentes visitas a Santiago procurei fotografar a possível cartografia dele naquela cidade, dispondo dos endereços de onde viveu e das instituições onde ele e tantos outros brasileiros exilados atuaram antes do golpe de Pinochet.
Nesse movimento cartográfico fui visitar com um amigo chileno o Museo de la Memória y los Derechos Humanos. Quando já terminávamos a visita, silenciosos e afetados por tudo aquilo que tínhamos experimentado ali, vi uma foto de Paulo Freire, sem legenda, vestido com um poncho, num grupo de pessoas. Reconheci-o imediatamente e num repente disse ao meu amigo: “Mário, esse homem mudou minha vida”.
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